terça-feira, 2 de dezembro de 2008

BARACK OBAMA: A ESPERANÇA INTERATIVA


A campanha de Barack Obama entra para a história do marketing político como a “campanha 2.0”. Praticamente todas as ações tiveram um braço digital e a captação de recursos para seu financiamento não poderia ser diferente.
Apenas no mês de setembro, o democrata arrecadou mais de US$ 150 milhões, quebrando todos os recordes de captação de fundos para campanha. A quantia é mais do que o dobro do montante levantado no mês anterior: US$ 67,5 milhões.
Segundo o gerente da campanha, David Plouffe, Obama conseguiu 632 mil novos doadores em setembro, aumentando para 3,1 milhões o número de pessoas que o apoiavam financeiramente.
O salto só foi possível porque o democrata desistiu do financiamento público para sua campanha, permitindo que passasse a arrecadar quantias milionárias. Além disso, a estratégia de arrecadar pela internet também o ajudou a aumentar o número de seus contribuintes.
Uma ação de Obama ilustra bem essa “arrecadação 2.0”: No ponto alto de um comício no Central Park em Nova York, o então candidato convocou o público a se juntar à campanha. Gritou para que os presentes pegassem seus celulares, digitassem “Join” e enviassem o SMS para um determinado número. Nem é preciso dizer o volume de aceitação e de incremento da base de doadores.
O carisma e, conseqüentemente, o poder persuasivo de Barack Obama deram o tom de sua campanha. Além disso, o profundo conhecimento das mídias sociais permitiu que ele fosse além e usasse a interatividade, tão almejada pelas pessoas, ao seu favor. Isso, claro, se aplicou à arrecadação de doações e surtiu o efeito desejado. Obama conquistou a simpatia do povo, saiu da posição de um desconhecido e catapultou-se à extrema popularidade graças á “ainda” nova mídia Internet e esta projeção também permitiu que doações elevadas acontecessem por parte de empresas desejosas de ver sua marca atrelada à do candidato.
Comparando a campanha de Obama a da eleição de 2004 (até o mês de setembro), temos um total arrecadado, desde o início, de US$ 605 milhões. Já a quantia arrecadada em conjunto pelo democrata John Kerry e pelo republicano George W. Bush foi de US$ 684 milhões antes das convenções dos dois partidos. A Web 2.0 é ou não é um mecanismo ultra eficiente de arrecadação de recursos? Seja diretamente, via doações imediatas online, seja indiretamente, ou seja, via projeção do candidato e percepção das empresas que fariam um grande negócio atrelando sua marca à do candidato, a resposta é SIM!

A participação do eleitor na campanha

Obama foi considerado um fenômeno do marketing. Na Conferência Anual da ANA (Associação Americana de Anunciantes), ele saiu-se vencedor, em votação direta dos participantes, como o vencedor do CMO (Chief Marketing Officer) Choices Award, promovido pelo Advertising Age, que tem por objetivo destacar o melhor esforço de marketing do ano. Obama superou referências de excelência em marketing como Apple e Zappo (organização que vende sapatos pela internet), que ficaram em segunda e terceira posição, Nike, a cerveja Coors e até seu rival John McCain.
Graças a esse fenômeno, nunca o povo americano se sentiu tão mobilizado a sair de suas casas e ir às urnas para eleger um candidato como o fez pelo republicano. Segundo os jornais, nos últimos 30 anos, a taxa de participação nas eleições presidenciais oscilou entre 54 e 63% e a estratégia dos grandes partidos, democrata e republicano, consistiu tradicionalmente em motivar seus simpatizantes a comparecer às urnas, ao mesmo tempo em que tentavam ganhar votos suficientes de eleitores independentes para vencer as eleições.
Obama foi atrás do eleitor jovem. Quis se aproximar de todos e também daqueles que nunca votaram. Com uma equipe atuante, formada por muitos voluntários, convenceu centenas de milhares de pessoas a se registrarem nas listas eleitorais. Ele comandou com maestria os súditos que “convocou” para trabalhar a seu favor de modo que atraíssem mais e mais adeptos.
Vale lembrar que nos Estados Unidos metade dos cidadãos tem acesso à banda larga e a Internet é a linguagem dos jovens que se sentiram – como os outros cidadãos – tocados e mobilizados pela campanha e resolveram trabalhar em prol dela voluntariamente.
Evidentemente que a internet, por si só, não fez todo o trabalho sozinha. Além de usar e abusar com eficiência das mídias interativas, Obama tinha conteúdo e atributos significativos. Era um senador negro, em um país tradicionalmente de racistas. Muitos veículos compararam sua trajetória e desejo de mudança à vontade férrea de Martin Luther King. Até mesmo no Brasil isso foi notado: repetidamente o canal de TV por assinatura Globonews passou reportagens mostrando a história do líder negro, comparando com a de Obama. Além disso, de acordo com pesquisas feitas em território norte-americano, 75% da população considerava que o país estava no caminho errado, sofrendo as conseqüências de uma guerra impopular e cara e de uma crise econômica de proporções assustadoras.
Ou seja, era o símbolo – ou a esperança – da mudança.

Canais de Comunicação

Já falamos, nos itens anteriores, alguns dos canais de comunicação utilizados por Barack Obama. Como vimos, ele lançou mão de todas as mídias – tradicionais às interativas – para atingir seu eleitorado. Entre elas: comícios, discursos, debates, propagandas tradicionais na televisão, jornais, revistas, internet, blogs, sms, vídeo no you tube, site mobile, espaço para debates virtuais, redes sociais como Orkut e face book, rede social pessoal (mybarackbama), ringtones e conteúdo para celular... Nada faltou.
Obama chegou aos diferentes públicos utilizando com maestria os canais adequados. Não despertou a percepção de que era um aventureiro que usava das ferramentas certas para alcançar o que queria, mas que realmente sabia e utilizada daquelas mídias com conhecimento de causa e por isso foi tão bem ouvido e intitulado, por alguns como “o primeiro presidente 2.0 da história”. Mas vale refletir se essa interatividade toda ficará apenas na campanha ou se estenderá por todo o governo.
Segundo reportagem da Reuters “Ativistas virtuais pedem que Obama mantenha uso da internet no governo”. Jovens ativistas têm exigido que a internet passe a ser parte importante do novo governo e analistas afirmam que as ações de Obama podem sinalizar uma nova era no relacionamento dos cidadãos com governos. Veremos um pouco mais sobre isso no item “a participação dos cidadãos no novo governo”.
Segundo a Gazeta Mercantil de 6 de novembro: “A eleição que tornou Barack Obama o 44º presidente dos Estados Unidos foi a mais longa, a mais cara e a de maior audiência da história do país. Foram 670 dias de campanha, que consumiram US$ 2,5 bilhões, envolveram 45 debates entre os candidatos, levaram 130 milhões de eleitores às urnas, e - outro recorde -- atraíram um exército de 1,5 mil jornalistas internacionais para a cobertura final da disputa”


Vantagens competitivas

Embora o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, também tivesse ferramentas na web, especialistas são unânimes em afirmar que Obama soube aproveitar melhor a internet. A página do democrata no Facebook, por exemplo, é a mais popular do site – com 2,5 milhões de apoiadores virtuais.
Foi nesta página que o presidente eleito revelou seus filmes favoritos e deu notícias sobre a campanha.
Portanto, uma das vantagens competitivas de Obama em relação à Mc Cain está no excelente uso que fez da internet e das mídias sociais, o que o aproximou das pessoas, principalmente dos jovens, promoveu um clima de interatividade, proximidade, humanizando-o diante de seus eleitores, o que não aconteceu com Mc Cain.
Outra vantagem competitiva de Obama foi o modelo de captação de recursos financeiros para a campanha. Como relatado acima, a arrecadação assumiu novos moldes, permitindo que ele tivesse acesso a doações milionárias. Também viabilizou que seus eleitores doassem a quantia que desejassem via internet e incentivou essa atitude. Era uma forma de mostrar que todos poderiam participar daquele movimento de mudança dos Estados Unidos, de esperança e confiança em dias melhores. “Yes, you can”, era o mote da campanha em um convite para que todos se unissem pela transformação do país.
Sem dúvida o magnetismo, o carisma pessoal de Obama é uma de suas mais significativas vantagens competitivas frente ao outro então candidato. Um belo homem negro e bem-sucedido, em um país tradicionalmente racista e que lutava para se livrar dessa sombra pesada do passado. Milhares de negros desejosos de se verem representados. Aliás,não somente a sua negritude, mas acima de tudo a sua miscigenação-pai negro, mãe branca e padrasto asiático- o credenciou a falar com todos os diversos grupos étnicos existentes nos EUA. Um herói desconhecido, que surgia do nada, chegava às alturas e trazia o “quê” do Messias!
Sua liderança natural e poder de oratória são notórios. Assim, ele conseguiu se tornar uma lovemark e, com isso, aumentar ainda mais os montantes depositados no cofre eleitoral por meio da venda de camisetas, bonés e outros itens que estampavam sua imagem. Tal vantagem financeira permitiu à sua equipe veicular 7.700 comerciais por dia, o dobro de inserções da campanha de McCain.
Em uma das últimas semanas pré-eleição, a equipe de Obama deu o golpe final e gastou a bagatela de US$ 5 milhões para veicular um comercial de 30 minutos no horário nobre, que foi transmitido em três das quatro cadeias de televisão em aberto - CBS, NBC e Fox - assim como no canal a cabo MSNBC, na rede em espanhol Univisión e dois canais orientados a uma audiência afro-americana: BET e TV One.

A participação dos cidadãos no novo governo

Se Barack Obama já fez história por ser o primeiro presidente negro eleito em um país tradicionalmente racista, se foi capaz de mobilizar tantas pessoas a irem às urnas para elegeram em um país onde o voto não é obrigatório e fez uso da web 2.0 para ser o primeiro presidente 2.0 da história em um país de internautas, ele tem a chance de ser também o primeiro presidente realmente interativo do planeta.
Sem dúvida, é o que todos desejam. Obama terá que lidar, por exemplo, com as expectativas de seus seguidores, que durante a campanha se acostumaram com atualizações regulares em vídeo e texto e transformaram sites como YouTube, MySpace e Facebook em "comitês virtuais" do obamismo.
Será que Obama continuará mantendo sua personalidade 2.0? A princípio parece que sim. A página chamada Change.gov está sendo usada pelos responsáveis pela campanha de Obama para fornecer um guia para o processo e pedir sugestões aos cidadãos americanos. O site também permite que os internautas se candidatem a um cargo no novo governo.
Muitos afirmam que a criação da página Change.gov cumpre uma promessa de Obama, que declarou que pretendia tornar o processo de governo mais transparente. Na página de transição, o órgão de fiscalização do governo americano apresenta uma lista das 13 questões mais urgentes que Obama terá que enfrentar.
O Escritório de Prestação de Contas do Governo (Government Accountability Office ou GAO, em inglês) afirma que o novo presidente terá que cuidar com urgência da supervisão das instituições financeiras e dos mercados no país e dos conflitos no Iraque e no Afeganistão. Um blog dentro do site Change.gov vai documentar o processo de transição. Também existem planos de publicar as biografias das pessoas que Obama está recrutando para o novo governo (fonte BBC). O jeito é aguardar ou ajudar a escrever – no melhor estilo interativo – as próximas páginas dessa história.